Sobre criação dos filhos

Sobre Criação dos filhos

A principal referência em relação ao modo com que encaramos a criação dos filhos é a maneira com que nós fomos criados, certo? Para o bem e para o mal. Quantas vezes você pensou que não iria repetir com seus filhos aquilo que seus pais fizeram com você? Ou quantas vezes você se pegou observando uma cena e julgando internamente dizendo que você jamais faria isso com um filho?

Natural até. Não existe uma escola para criação dos filhos. Aprendemos empiricamente, através da observação. Alguns de nós procuram ler livros e conversar com outras pessoas a respeito, mas o fato é que criação de filhos é um assunto tão complexo e abrangente, tão cheio de variáveis, que fica quase impossível criarmos um método ou uma compilação de tudo o que envolve o assunto. Acaba se tornando então uma mistura de conhecimentos adquiridos através da nossa própria experiência, uma série de tentativas e erros ao longo da jornada.

Esses conhecimentos são passados por gerações e disseminados pela sociedade onde vivemos e que, consequentemente, acabamos aceitando como verdades universais. Mas e se esses conhecimentos ou crenças a respeito da criação de filhos não fossem verdades universais?

sobre criação dos filhos

Há alguns anos, o livro Crianças francesas não fazem manha foi um estouro de vendas e fez muito sucesso com pais e mães que buscavam entender o comportamento de seus filhos. Para quem não conhece o livro, a autora Pamela Druckerman, vai morar em Paris com seu marido e resolve pesquisar porque as crianças francesas parecem mais calmas e educadas que as crianças americanas. Ela acaba engravidando e, com isso, convivendo com outras mães nas mais diversas situações, o que a faz traçar um paralelo comparativo entre os seus próprios conceitos de criação de filhos e os conceitos franceses.

Entre eles, o conceito do “direito”. Crianças tem ou não o “direito” de fazer algo. Este conceito é espalhado em todas as instâncias da sociedade e junto com ele vem a explicação ou a noção da coletividade ao redor. “Você não tem o direito de pedalar sobre a grama do jardim.  Se fizer isso poderá estragar as plantas e saindo do local adequado às bicicletas poderá se machucar”. A noção é abrangente e a criança, e todos que a cercam reforçam o entendimento. Outro conceito interessante é o do tempo de espera, antes de atender a um bebê que chora em seu berço. A explicação é que bebês precisam aprender a tentar ajustar os ciclos do sono. Precisamos dar a eles a chance de resolver sozinhos, antes de socorrê-los.

Eu li o livro e fiquei muito curiosa. Primeiro porque tendo convivido anos com famílias americanas, por conta do meu trabalho, pude identificar muito bem os pontos que Pamela mostra em relação aos hábitos de criação que ela conhecia, bem como os padrões de comportamento que seus filhos demonstravam. Eu mesma testemunhei muitos do tipo, durante minhas viagens aos Estados Unidos. Mas também porque lendo o que ela conta sobre as crianças francesas, tem muita coisa que eu não concordo e que ela exalta como sendo maravilhosos. Assim com outros tantos que parecem mesmo interessantes.

Aqui tem um artigo excelente da Carolina Pombo, do blog Mãe e o Tempo, que faz uma análise do livro aos olhos de quem também conhece a realidade francesa para criação de filhos e mostra com muita precisão os pontos que me incomodaram.

sobre criação dos filhos

Fiquei tão curiosa sobre o assunto que fui buscar mais informações e acabei descobrindo um outro livro, chamado Parenting without borders, infelizmente sem tradução para o português, da autora Christine Gross-Loh. Neste, a autora faz uma pesquisa ao redor do globo, levantando os hábitos de criação em alguns países no que diz respeito aos itens mais comuns, tais como sono, alimentação, escola, autonomia, etc… Ao mostrar as diferenças culturais sobre assuntos comuns aos pais e mães do planeta, percebemos que as tais “verdades universais” não existem. Elas variam conforme o país e conforme a cultura em que estamos inseridos. 

Christine Groos-Loh, a autora, é PHD em Harvard, na área de estudos asiáticos. Filha de imigrantes Coreanos, nasceu e cresceu nos Estados Unidos. Mudou-se para o Japão com seu marido judeu e seus filhos e lá, no Japão, percebeu que aquilo que acreditava ser “o certo” para seus filhos, era completamente estranho para as mães japonesas. Ou seja, ela viveu na pele as situações que pesquisou.

Já no início do livro ela cita Robert LeVine, um antropólogo de Harvard que diz que os pais, em nosso planeta, tem 3 objetivos comuns e universais, no que tange à criação dos filhos:

1. Sobrevivência e saúde. Todos os pais querem que seus filhos vivam.

2. Considerando que o primeiro item esteja garantido, o segundo objetivo é criar seus filhos para que eles tenham condições de se sustentar economicamente quando adultos e, finalmente

3. O desejo de ver seus filhos realizados, felizes, com as competências e valores necessários a uma pessoa para ser bem sucedida na vida, em todos os seus aspectos.

Ler o livro é uma provocação maravilhosa sobre a nossa própria maneira de criar nossos filhos. Percebemos o quão semelhantes ou diferentes somos em relação aos outros países e, por vezes, podemos até “perdoar” certas atitudes que temos, que são sabidamente contra o que todos a nossa volta falam.

Assuntos como alimentação, cama compartilhada, criação com apego, supervisão, tarefas, super-proteção… tudo isso é abordado, através de exemplos e comparações. Muito, muito interessante.

Lendo o livro, eu lembrei do pediatra na maternidade, que foi me visitar logo após o parto da Manoela, nossa primeira filha. Nós estávamos na CTI neonatal, como contei aqui. Eu com ela no colo, mãe de primeira viagem, cheia de dúvidas e super preocupada, enchi ele de perguntas. Estava visivelmente aflita e ansiosa. Dr. Márcio, com a sabedoria de seus muitos anos exercendo a pediatria, tocou meu braço carinhosamente e disse:

– mãezinha, ouve teu coração. Coração de mãe sempre sabe o que fazer, sempre sabe o que é melhor para seus filhos. Há milhares de anos as mulheres tem filhos. Esse conhecimento é instintivo e universal. Segue o teu instinto e seja feliz. Lembra que “mãe feliz, filho feliz. Mãe tranquila, filho tranquilo”. Não complica.

Abençoadas palavras! Rolaram umas lágrimas de agradecimento e alívio. Eu ali, naquele momento, relaxei em relação aos livros, as regras, os conselhos, os programas de televisão, sites e revistas. Rasguei a cartilha.

Eu já tinha acumulado conhecimento suficiente. Daquele momento em diante, era por em prática e fazer o melhor que eu podia, com as ferramentas que tinha. Se batia a dúvida ou insegurança, respirava fundo e ouvia o coração. Eu sempre tive resposta.

Acertei muitas vezes, instintivamente ou não. Errei outras tantas também. O instinto não resolve tudo. Mas me dar permissão para segui-lo, trouxe uma paz de espírito indescritível e um certo empoderamento para tentar resolver as situações que aparecem no dia a dia com as crianças. 

Finalmente, não sei dizer se sou boa mãe, mas faço o melhor que eu posso, conscientemente. Vejo minhas filhas crescendo saudáveis, física e emocionalmente e penso que estamos fazendo um bom trabalho. Deixaremos um legado de amor, uma estrutura sólida e forte para que, a partir daí, elas sigam seus próprios caminhos, façam suas próprias escolhas e, quem sabe, um dia nos deem a alegria de ter netos.

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Sobre o Autor : Claudia Bins

6 comentários

  1. Gabi Miranda 18 de abril de 2016, 22:54 comentar

    Adoro ler e adoro ler livros de puericultura. Já li esse das crianças francesas e fiquei interessada por esse que vc indica. Atualmente estou lendo o último da Laura Gurman. 🙂

  2. Tatiana 19 de abril de 2016, 01:26 comentar

    Eu não li nenhum dos dois livros, apesar de ja ter ouvido falar muito bem do 1º. Estamos entrando numa fase de birras por aqui, e acho que vou precisar le-lo rapidamente

  3. Ana Claudia 19 de abril de 2016, 01:45 comentar

    Gosto muito de ler livros sobre educação e comportamento das crianças. Gostei muito das suas dicas.

  4. Tatiane Lopes 19 de abril de 2016, 12:55 comentar

    Que legal a dica a dos livros vou procurar, ou vou a base do instinto acertando, errando mas fazendo meu melhor. bj

  5. Adri 19 de abril de 2016, 22:47 comentar

    Esse livro foi um estouro mesmo, eu nunca li, mais já ouvi muitos comentários
    sobre, acredito que mãe tem que segui seu coração, e
    criar os filhos da melhor maneira que acha melhor.
    bjs

  6. Adriana 20 de abril de 2016, 16:41 comentar

    Fiquei bem curiosa para ler o segundo. Vou procurar esse pois adoro esse tipo de leitura

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