As Passeadeiras

Sabático em Família – Entrevista com Cristina Leonhardt

Continuando nossa série de entrevistas aqui no site, hoje é dia da Cris, do blog Cuore Curioso.  A Cristina Leonhardt é mãe, escritora,  fotógrafa amadora e engenheira de alimentos – não necessariamente nesta ordem! Em 2015, após ser demitida, aproveitou o tempo livre e o dinheiro da rescisão para fazer um sabático em família pela Europa e Ásia: o marido, a filha de 4 anos e ela ficaram 111 dias viajando. No retorno, está escrevendo sobre a experiência e seus aprendizados no blog Cuore Curioso. Durante o sabático também veio a ideia de um novo negócio – afinal sabático é para isso mesmo! – e criou um portal para falar sobre inovação em alimentos no Sra Inovadeira.

Apertem os cintos e boa viagem com a Cris e sua família!

Fazenda de Pérolas na Baía de Halong – Vietnam

Vocês fizeram uma viagem incrível por 111 dias pela Europa e Ásia. Quais países visitaram e quanto tempo ficaram em cada um?

Fizemos um período sabático em família, com passagem apenas de ida e sem roteiro, por 5 países: Alemanha (16 dias), China (31 dias), Vietnam (24 dias), Camboja (7 dias) Tailândia (28 dias). Teve uma paradinha em Cingapura de uma tarde antes do voo de volta para o Brasil, conta? Dá para ver o nosso roteiro em detalhes aqui.

Passeando de bicicleta tripla pelo interior – Xingping, China

Como foram os destinos em relação a facilidade de locomoção, refeições e relacionamentos, principalmente considerando uma criança pequena?

Olha, locomoção não tem do que falar da Alemanha – é um país de primeiro mundo e tudo é pensado e planejado para funcionar.

A China nos surpreendeu com uma malha ferroviária muito extensa, porém ainda há problemas de comprar passagens de trem – e aéreas – com cartões internacionais. No caso dos trens, somente em dinheiro na estação, o que limitou um pouco, tivemos que recorrer a uma agência online por duas vezes.

O Vietnam também foi uma boa surpresa, porém tivemos uma experiência não tão boa com trens por lá: pegamos um de 11h 25min de Ninh Binh a Hué que estava caindo aos pedaços e andava bem devagar. Depois disso, usamos apenas ônibus ou avião. Na região do Delta do Mekong pegamos um misto de ônibus ruim (com direito a galinha e tudo) e muito bons.

No Camboja ficamos pouco tempo, e usamos apenas um ônibus local, entre Phonm Pehnm e Siem Reap, que era pior do que a experiência do Vietnam – apesar de ser vendido como serviço VIP.

Na Tailândia, nova boa surpresa: aeroportos organizados e bons, trens bem cuidados, limpos, ônibus MUITO bons.

A Sara, nossa filha de 4 anos, é uma criança muito meiga e calma. Talvez, contudo, a sua maior característica seja a resiliência: ela aguenta firme mesmo as viagens mais desgastantes. A única esfera que deu um pouco de trabalho foi a comida – demorou um pouco até encontrarmos a fórmula mágica “espetinho de carne” para ela se interessar pela comida asiática (mesmo na Alemanha ela deu um pouco de trabalho, mas por lá sempre tinha montanhas de leite).

 

Sara fazendo graça no Wat Pho – Bangkok, Tailândia

Você teve alguma dificuldade que poderia compartilhar conosco?

Como fizemos uma viagem bem longa, uma das coisas que eu tive que aprender a administrar é a ansiedade.

Quando fazemos uma viagem mais curta, dá para fazer algo extremamente detalhado, com planejamento para cada dia, mas numa viagem tão longa isso não funciona. No final, aprendi a reservar o hotel por apenas as duas primeiras noites, e decidir quando ir embora, e para onde ir, apenas quando já tinha chegado no destino.

Pensa numa pessoa que reservou no Brasil (em julho!) os hotéis e trens que usáriamos em Beijing e Xi’an em setembro, mas que apenas reservou o hotel dos últimos três dias da viagem quando já estava no ônibus indo em direção a ele: é um grande avanço!

Tempo do Paraíso – Beijing, China

Você recomenda esse tipo de viagem para famílias com crianças? Porquê?

Com certeza! Eu DEFINITIVAMENTE não sou do tipo Disney – nem sei se um dia estarei por lá.

Esta viagem foi tranquila, desafiadora, maravilhosa, segura e muito empolgante. Ver a minha filha, no alto da montanha mais alta da Tailândia, olhar ao redor e dizer “UAU” aos 4 anos não tem preço.

Foi superimportante para nós, como família, passar esse tempo juntos, sem a pressão da rotina e do trabalho: isso fortaleceu muito os laços e fez com que nos entendamos bem melhor hoje.

Último dia da viagem, pit-stop no vôo de retorno – Cingapura

Quais os pontos positivos e os pontos negativos dessa viagem?

O maior ponto positivo, a meu ver, foi que conseguimos voltar diferentes do que fomos. Aprendemos muito a respeito do mundo e das pessoas, mas cada um de nós aprendeu coisas novas a respeito de si mesmo.

Tanto que é sobre isso que tenho escrito no Cuore Curioso: usar a viagem como uma ferramenta de desenvolvimento pessoal.

Pensa bem: a paisagem é muito melhor do que a do divã do analista, né?

Não sei se houve pontos negativos: mesmo nas dificuldades que tivemos – como incorporar novos alimentos na dieta da Sara – aprendemos muito. Não vejo nada do que aconteceu de mais difícil como coisas ruins: vejo como um teste para nos desafiar e fazer crescer como pessoas.

Um dos mirantes entre Pai e Mae Hong Son, Tailândia

O que você teria feito diferente?

Bom, há lugares em que teria feito coisas bem diferentes:

  1. Em Beijing, teria escolhido um hotel com pontuação 8 ou mais no Booking (pontuação que virou a nossa regra depois);
  2. Não teria reservado o hotel por tanto tempo em Xi’an, e quando as hordas do Feriado Nacional fossem embora, teria seguido viagem antes (ficamos 10 dias mofando no hotel por lá. Xi’an é legal, mas foi tempo demais);
  3. Teria ficado mais uns 2 dias em Xingping, apenas descansando (ficamos apenas 2);
  4. Teria feito o passeio por Halong Bay e depois pego uma balsa para Cat Ba (ou ido do resort direto para Cat Ba). Essa região do Vietnam é muito linda para ficar apenas 2 dias.
  5. Teria resistido mais aos impulsos de voltar do marido e da filha e ficado mais uns 2 ou 3 meses viajando!
     

Pandas bebês em Chengdu, China

Quais dicas de planejamento e preparação você tem para dar a famílias que queiram viajar com crianças para esses países? Alguma documentação, vacina ou recomendação?

Bom, antes de viajar para a Ásia, nós visitamos uma infectologista e listamos os países pretendidos. Ela fez uma pesquisa e nos passou uma lista de vacinas, que tentamos fazer todas. Tivemos alguns problemas, como por exemplo o posto de saúde se negar a nos vacinar para algumas doenças porque “apenas o pessoal da companhia de água e esgoto é vacinado para isso”. Infelizmente, não moramos em SP e a medicina do viajante é muito precária no restante do país.

Eu sempre acho bom sair do Brasil ao menos sabendo coisas gerais sobre os países que se irá visitar: assim, se um passeio não dá certo, sempre tem outro na manga para fazer. Com parcimônia, pois também é bom conhecer coisas pelo caminho e deixar-se surpreender.

Por fim, a minha recomendação mais importante sempre é: vá. Se jogue. Se aventure. Viajar é a forma mais bacana de aprender.

Xingping, um dos lugares mais mágicos da viagem. Guilin, China

Como são os custos em geral, comparados com outros tipos de viagem mais tradicionais? (o que é mais caro, mais barato, etc)

Eu não faço ideia do quanto gastamos nessa viagem, então não tenho muito o que dizer aqui. Porém, como o nosso roteiro era bem flexível, o custo de transporte me pareceu mais baixo do que numa viagem com data e hora de retorno, pois tínhamos possibilidade de escolher os voos mais baratos e usar muito transporte público local.

Finalmente, você recomenda a experiência para outras famílias?

Não sei se é a experiência certa para TODAS as famílias: se você é muito ansioso, se tem medo do novo, se não se arrisca, talvez seja melhor fazer uma viagem de pacote, com data e hora para tudo, pois assim você irá aproveitar mais.

Mas se você é curioso, tem sede e fome do mundo, se gosta de um desafio e se consegue lidar com os imprevistos que aparecem pelo caminho, e os absorve de bom grado como parte do jogo, esta é a viagem certa!

Olhando para trás, mesmo o meu marido, que era mais reticente sobre a decisão de ir, e foi “um pouquinho” empurrado, admite hoje que foi a melhor coisa que fizemos nas nossas vidas (até hoje). E olha, não somos bebês – eu tenho 37 anos e ele, 33. Fizemos esta viagem na etapa madura da nossa vida e ela descortinou um universo de possibilidades para o nosso futuro.

Descobrimos que somos capazes, que somos bons, que lidamos bem com o stress, que somos flexíveis – tudo isso, numa viagem.

Posando às margens do Lago Multicolorido em Jiuzhaigou, Sichuan, China

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Eu já era fã da Cris e do seu blog Cuore Curioso, depois dessa entrevista fiquei ainda mais! Sou do seu time Cris, adoro um desafio, adoro viagens diferentes, adoro colocar os pés no mundo e levar minha gangue junto. Aqui em casa o marido também é mais “pé no chão” e resistente às aventuras, mas a gente dá um empurrãozinho e vai!

Obrigada Cris, pela delícia de entrevista e sinta-se convidada a voltar sempre que tiver viagens para contar.

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Leia outras entrevistas com famílias viajantes aqui.

e sobre as viagens das Passeadeiras, aqui. Sabia que nós fizemos um Intercâmbio Familiar?

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Beijos das Passeadeiras!

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