As Passeadeiras

Lógica Infantil

logica infantil

Lógica infantil é o título de mais um artigo delicioso da nossa psicopedagoga Circe Palma. Ela conta um episódio que poderia acontecer com qualquer um de nós, que temos filhos pequenos. Um exemplo do constante teste de limites ao qual somos submetidos como pais e como nossos filhos, desde pequeninos, usam uma lógica de raciocínio que tantas vezes nos surpreende.

Nunca, em momento algum, podemos subestimar nossas crianças. A linha de raciocínio delas segue uma lógica se não perfeita, pelo menos convincente.

Preocupada com o que poderia estar fazendo, a mãe desce para o estacionamento do prédio. Lá estava seu querido André mais o amigo inseparável, o Wagner. Mesma idade, mesmo interesses e uma parceria bonita de se ver. Literalmente amigos para sempre. Protegiam-se mutuamente quando o “tempo fechava” por conta das travessuras que aprontavam.

Naquele dia foi isto o que aconteceu. Brincavam a algumas horas, perdidos no tempo, como é comum para as crianças, quando o mundo imaginário parece adquirir vida. Embora já estivessem sendo chamados pelas mães para voltarem para casa,  a “brincadeira” do momento parecia muito interessante e impossível de terminar.

Então a mãe do André resolveu ir pessoalmente conferir o que estava “rolando”. Encontra os meninos, completamente absorvidos e concentrados na experiência que faziam. O que é isto, guris? Pergunta um pouco surpresa. Nós estamos testando para ver se o rabo dela cresce mesmo, mãe. No chão, uma pobre lagartixa pequena, destas de parede, se contorcia. O interesse dos meninos se dividia. Ora no animal que parecia agonizar, para horror e tristeza da mãe, ora no membro decepado que também se contorcia, como se ainda tivesse vida. O que dizer diante de um fato como este. Salvar o pobre animal já não era mais possível. A mãe do garoto decidiu apenas terminar com o evento, se é que se pode assim chamar. E veio então a ordem militar. Vamos subir. Seguida de um argumento que tinha tudo para ser válido e irrefutável. Lagartixas são venenosas. Vocês não podem brincar com elas.

Diante da fala rude, sem possibilidade de apelação, os garotos não tiveram escolha. Subiram, cada um para sua casa.

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Leia outros artigos de Circe Palma aqui.

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Mas André, não se convenceu como parecia. Usando de uma  lógica peculiar e de um raciocínio até certo ponto frio, segundo o qual as crianças muitas vezes se movimentam, ele simplesmente foi pesquisar. Não havia, naturalmente, tecnologias como temos agora, e isto torna o fato ainda mais interessante. Encontrou numa pequena enciclopédia que servia como fonte de pesquisa para ele e a irmã, uma página inteira sobre lagartos e lagartixas. Mamãe, olha aqui. Mostrou para ela o resultado de sua pesquisa e, simplesmente, acrescentou no final da leitura do parágrafo que lhe interessava, a expressão feliz de quem obteve êxito no seu intento. Viu? Lagartixas não são venenosas, apenas os lagartos grandes é que são. E, assim mesmo, estes não vivem no Brasil. Então, eu vou chamar o Wagner e vamos voltar para brincar com a lagartixa, lá embaixo.

A mãe do menino ficou sem saber o que dizer. Exigir que ele não fosse seria completamente sem sentido. Seria como desconsiderar todo o seu esforço em busca de um argumento válido. E, ainda mais, seria uma exigência sem sentido, que lhe desautorizaria em uma próxima situação. O menino correu a chamar o amigo e na porta, ainda voltou-se para a mãe pedindo o seu consentimento, que obviamente sabia que ganharia. Nada mais lógico.

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