As Passeadeiras

O que nos separa do outro lado do mundo

Hoje tenho a honra de receber aqui no site a querida Nurit Masijah Gil, mãe, publicitária, empresária, autora do livro A Senhora Perfeitinha, que tem o mesmo nome do blog do qual é editora e também colaboradora de alguns sites como Simplesmente 40 e FIRGS. Nurit viajou com sua família para a Austrália e conta aqui pra nós, de maneira precisa e delicada, o que nos separa do outro lado do mundo. Obrigada pelo texto incrível Nurit. De coração!

Nurit e seus filhos

 O que nos separa do outro lado do mundo

Apesar de uma certa saudade da minha cama e do meu chuveiro, eu tenho a fraqueza de voltar de viagens contendo lágrimas.

Acontece que desta vez, foi mais forte.

Viajamos vinte e quatro horas com duas crianças pequenas a tiracolo e uma parada estratégica em Santiago, cidade que sempre me encanta. Paramos, descansamos e seguimos. Afinal, o outro lado do mundo fica muitíssimo longe, muito mais do que nosso imaginário infantil previa quando acreditávamos que cavando um buraco bem fundo na areia poderíamos chegar até a China. Não fomos para a China, mas para a igualmente distante Austrália. A viagem foi longa. E chegamos no paraíso.

Minha sogra mora há muitos anos em Sydney e seguimos direto para a casa dela. Não foi a nossa primeira vez, mas a dos meus filhos e, por isso, teve um gosto especial: eles finalmente conheceram a tão falada casa da vovó. Estávamos do outro lado do mundo, mas com cheiro de refogado e bolinho caseiro.

Já éramos apaixonados pelo país. “O Brasil que deu certo”, como muitos dizem. Provavelmente sim e desta vez, presenciamos o brilho nos olhos que ele proporciona mesmo para quem, como as crianças, não faça ideia do caos político e econômico que estamos vivendo no Brasil.

Sydney é um misto de cidade cosmopolita, praias paradisíacas, casa de imigrantes do mundo inteiro. Foram três semanas pisando na areia fofa, sentindo aromas diversos, experimentando uma culinária multicultural. Fishh’n chips e polvo na chapa dividem espaço com chapatis e baklavas. Visitamos museus, parques naturais, conhecemos a riquíssima fauna que existe além de cangurus e koalas, caminhamos, colocamos os pés no mar, descansamos.

A beleza de Sydney é indescritível.

Mas não é por ela que minhas lágrimas seguem contidas, mesmo passado um mês do nosso retorno.

Meus filhos tem seis e quatro anos. E eles passaram vinte dias livres. Nos parques deliciosos que existem a cada porção de quarteirões, correndo pelas praias, andando em nossa frente nas ruas.

– Pode mesmo, mãe?

– Pode.

Pode sim. Pode caminhar sem olhar para trás, sem ter medo de ser assaltado, pode brincar sem ser a poucos centímetros de nós. Por mais incrível que tenha parecido para eles, pode entrar bem devagarzinho no carro. A mãe deles – sim, eu – deixou sua porção neurótica descansando no país tropical de origem.

E eles ficaram mais maravilhados com a liberdade que com a paisagem. Uma criança deveria conhecer a segurança, mas na loucura do dia-a-dia, mal paramos para pensar que nossos filhos, aqui no Brasil, não a conhecem. “Mãe, podemos morar aqui?”. Imagina quando souberem da educação gratuita, do governo que trabalha para o país crescer, dos impostos que retornam.

Foram três semanas em paz, aproveitando o primeiro mundo, sonhando com um futuro melhor. Voltamos. E por mais que nossas raízes estejam bem arraigadas, foi impossível não pensar em fazer as malas e, sem passagem de volta, voar para viver sem medo. O que nos separa do outro lado do mundo é muito mais que alguns quilômetros.

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Beijo das Passeadeiras!

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