As Passeadeiras

Paraty centro histórico

Paraty Centro histórico

A palavra Paraty, que dá nome a pequena cidade ao sul do estado do Rio de Janeiro, vem do tupi parati’y e, segundo ouvimos na cidade significa “rio dos paratis”, uma espécie de peixe comum na região.  Por volta de 1502, Américo Vespúcio escreveu, ao aportar em Paraty Oh Deus, se na terra existisse um paraíso, não seria muito longe daqui! Por ocasião de nossa visita pudemos comprovar o encantamento do gajo…

Visitamos Paraty por uma semana nas férias de julho e contei aqui sobre as razões, o planejamento, os custos e aqui sobre nossa hospedagem. Hoje vou contar sobre o centro histórico da cidade e o City Tour que fiz e recomendo muito. 

Casario típico de Paraty

Mesmo tendo lido e pesquisado bastante, como sempre faço antes das viagens, percorrer as ruas, visitar os locais aprendendo suas histórias é uma das partes que mais me encantaram. Eu recomendo fortemente que todos os visitantes façam o city tour em Paraty nos primeiros dias. Assim, vocês terão outra visão sobre a cidade. Falo isso porque fiz o meu no último dia e percebi o quanto eu deixei de perceber ao passear pela cidade sem ter as informações. Com as informações do guia, é como voltar no tempo e reviver a época colonial, imaginando o vilarejo em seus tempos áureos.

Existem várias operadoras na cidade e eu recomendo a MB Tours e a Paraty Tours. As pousadas tem parcerias com as operadoras e você pode agendar lá ou diretamente com as operadoras que tem escritórios no centro histórico. Um passeio pelas ruas e você vai encontrá-las facilmente. Eu paguei 25,00 para fazer o city tour que durou cerca de 2 horas.

Igreja Nossa Sra. das Dores

 Paraty foi sede do mais importante porto exportador de ouro e pedras semi preciosas do Brasil durante o período colonial (1530-1815) e era parte de Angra dos Reis até 1844. Os primeiros habitantes eram índios e os portugueses lá chegaram no século XVI, mas o registro mais antigo de povoamento se deu por volta de 1630. A partir dali, os portugueses utilizaram um antigo caminho feito pelos índios, o chamado caminho do ouro, que percorria a serra do mar em direção as Minas Gerais para o transporte  do ouro e de suprimentos desde e para o porto de Paraty.

Segundo nosso guia, apesar da grande importância econômica do local, Paraty nunca sofreu ataques piratas. A pequena cidade era muito bem protegida por fortificações erguidas pelos portugueses, nas ilhas que rodeiam a baía e também na cidade. Hoje em dia só permanece na cidade uma dessas fortificações, o Forte Defensor Perpétuo, que fica localizado no morro à esquerda, quem olha para o mar. O city tour não leva até o forte mas você mesmo pode ir, à pé, desde o centro da cidade. Basta atravessar a ponte sobre o rio Perequê-Açu e seguir em frente. Passe a praça de táxi que fica à esquerda e siga em direção ao morro. Suba a rua e vire á direita. À sua esquerda encontrará um totem indicando que ali é um monumento histórico. Siga em frente, subindo por um caminho amplo e arborizado, até chegar ao forte. Se for de carro, na rua mesmo tem lugar para estacionar. A entrada é gratuita e além do prédio histórico, dos canhões e muros centenários, oferece uma vista linda da baía.

Entrando no forte Defensor Perpétuo

No prédio tem um pequeno museu com artigos indígenas

Apesar de nunca ter sofrido ataque pirata, Paraty foi erguida com intenção de defesa. Suas ruas são curvas, dando a sensação de labirinto e, por conta disso não é possível avistar o final da cidade quando a olhamos dos extremos. Assim ninguém que não a conhecesse saberia do seu tamanho logo ao chegar.

As ruas de Paraty

A famosa rua da corrente (Rua da Lapa)

Algumas casas ainda possuem seteiras (buracos na parede para defesa) e a casa mais alta da cidade tinha vista para o forte, no morro e também para o porto, servindo de ponto de comunicação para o caso de problemas.

Seteiras nas casas de Paraty

A antiga loja maçônica era a casa mais alta da cidade

Como curiosidade, em 1711 o corsário Francês Dugau-Touin saqueou a cidade do Rio de Janeiro, a mando do Rei Luiz XIV, com uma frota de 15 navios de guerra. Exigiu um resgate milionário que, se não fosse pago, prometia incendiar a cidade. O tal resgate foi enviado desde Paraty pelo Capitão Francisco Amaral Gurgel.

Aberturas nos muros permitem a entrada da água do mar para limpar as ruas

Por estar localizada quase ao nível do mar, a cidade foi projetada levando em conta o fluxo das marés e com aberturas estrategicamente posicionadas que permitem, até hoje, a entrada das águas nos primeiros quarteirões da cidade. Como resultado, algumas de suas ruas são periodicamente inundadas pela maré. Antigamente não havia rede de esgotos e todos os detritos domésticos eram jogados pelas janelas, tornando o vilarejo fétido e sujo. Os construtores, inteligentemente, usaram as marés para fazer o serviço pesado de limpeza urbana. Mas só para os mais abastados, que moravam nas primeiras quadras perto do mar. Para ver o resultado, você deve perguntar o horário da maré alta (normalmente entre 4 e 5 da tarde) e a melhor época é na lua cheia, quando a maré sobe mesmo, alagando as ruas completamente durante esses horários. Nós só conseguimos ver um pouco de água entrando lentamente pelas aberturas.

Pedra grandes no piso da Igreja Matriz

Granito e minério de ferro compõe o calçamento das ruas

As famosas ruas de pedra do centro histórico não foram sempre assim. Segundo nosso guia, em seus tempos áureos, eram pedras de granito enormes oriundas da Serra do Mar, cortadas e encaixadas de forma a deixar a cidade plana e fácil de andar, bem diferente de como é hoje. Ainda é possível ver essas pedras na frente da Igreja Matriz e também na Praça em frente à mesma igreja. Na época do império, as pedras foram quebradas e retiradas, para colocação da rede cloacal. Algumas foram substituídas por minério de ferro (as mais escuras). Ocorre que sendo área tropical, com rios e muita vegetação, havia malária e outras doenças transmitidas por mosquitos. O minério de ferro aquecia durante o dia, matando assim as larvas e auxiliando na prevenção das doenças. Espertos não é?

O muro à esquerda guardava o pátio das casas mais abastadas

As pinturas indicam que ali eram 3 portas originalmente

A cidade passou por altos e baixos até o início do ciclo do café, com a vinda da família imperial para o Brasil, quando então passou por um período áureo de desenvolvimento econômico. A mando do Rei outra estrada foi construída, esta pavimentada com pedras, encurtando o caminho entre Paraty e Minas Gerais. A casas eram em sua maioria estabelecimentos comerciais, com portas ao invés de janelas (hoje algumas são pintadas como referência para mostrar como era). Os habitantes mais abastados moravam em sobrados, sendo que o andar térreo era o comércio e o andar superior, a moradia e esses também tinham terrenos atrás da casa onde criavam galinhas, porcos e vacas além do pomar e horta para consumo próprio.

Os sobrados da Praça da Matriz

Todo o ferro, vidro e artigos manufaturados vinham de Portugal ou da França e eram caríssimos. Assim, somente os muito abastados tinham acesso. A cidade era fortificada mas hoje em dia não existem mais os muros altos que a protegiam. Ainda existe o prédio onde funcionava o mercado de escravos, ao lado da Igreja Santa Rita dos Pardos, do ano de 1722 ( o cartão postal de Paraty). A antiga e icônica igreja funciona hoje como Museu de Arte Sacra. Além dessa, a cidade tem outras 3 igrejas: a Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios, a maior e mais moderna, mas que foi reconstruída várias vezes, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito que remetem ao ano de 1725 e ainda a pequena igreja de Nossa Senhora das Dores. Hoje somente a igreja Matriz é aberta. As outras somente em festas e ocasiões especiais.

A Igreja da Matriz

Igreja Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito, na Rua do Comércio

Quando tornou-se vila, a cidade tinha cadeia, pelourinho e câmara (prefeitura) e os prédios estão ali até hoje, no coração da cidade.

O antigo pelourinho ficava atrás deste muro.

A antiga “rua das moças” era facilmente avistada desde o porto, com tochas na entrada para deixar bem claro aos marinheiros o caminho a seguir (daí o nome Rua do Fogo).

Rua do Fogo

A cidade toda tem forte influência da maçonaria e, segundo nosso guia, vários símbolos são visíveis até hoje. A grande loja era a maior casa da cidade, com símbolos geométricos na fachada e arte em ferro na sacada. Além disso tinha o terceiro andar que funcionava como torre de observação e as portas pintadas das cores da maçonaria inglesa e francesa (azul hortênsia e vermelho), esta última com a flor de lis. Existem outras casas com referências maçônicas espalhadas pelo centro histórico. A fachada pintada com símbolos geométricos é uma das maneiras de identificá-las.

Casa com referência maçônica e com os abacaxis em ferro indicando que ali morava um nobre

Alguns moradores da cidade tornaram-se nobres e pode-se observar a distinção nas sacadas dos sobrados (os abacaxis de metal indicam nobreza) e a família real brasileira é dona de uma das primeiras casas a partir do mar (local muito privilegiado), quase ao lado da igreja das Dores. Podemos ver o brasão real na fachada. 

Casa da família real

O Brasão Real

Paraty passou por cerca de 100 anos de declínio econômico, quando foi construída a estrada de ferro ligando Rio a São Paulo no final do século XIX deixando a cidade às moscas por quase 100 anos. O abandono, no entanto, foi também responsável pela preservação dos prédios e da arquitetura histórica, sendo que por volta de 1940 a cidade foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e, em 1970 quando foi inaugurada a estrada Rio-Santos deu-se o início ao ciclo do turismo, vigente até hoje.

Sabia que existem mais de 60 ilhas e 90 praias em Paraty? A praia da cidade é acessível pelo calçadão do rio Perequê-Açu e tem estacionamento e restaurantes. No pier existem um sem número de embarcações que levam os turistas para passear pelas ilhas da região e você pode tratar diretamente com eles ou então agendar um passeio através das operadoras e agências. 

As Passeadeiras em frente a Igreja Santa Rita dos Pardos

No próximo post contarei sobre os passeios que fizemos, de escuna pela baía de Paraty e também de jipe, pela Serra da Bocaina. Em uma palavra: Sensacional.

Leia todos os posts sobre nossa viagem a Paraty aqui

Leia aqui sobre a Pousada das Andorinhas, onde ficamos hospedados

Férias em Paraty (Planejamento, custos e dicas de como chegar)

Passeio de jeep em Paraty

Passeio de escuna em Paraty

Parque Temático Mini Estrada Real

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