As Passeadeiras

Um anjo no caminho

anjos no caminho
Outro dia li o seguinte post no Facebook, que me chamou muito a atenção. De vez em quando aparecem casos assim, normalmente quando estamos fragilizados e descrentes com esse mundo que parece mais cruel e egocêntrico a cada dia. Quando a luz da esperança tremula, eis que aparece um anjo no caminho, como que para lembrar que os milagres existem e, quem os faz, somos nós.
De Walter Karwatzki – Um milagre no metrô.

“Outra noite voltando de Novo Hamburgo, de metrô, este jovem me chamou a atenção por não estar usando uma roupa “quente”, pois a noite estava muito fria. Ele me perguntou se eu queria comprar umas pulseirinhas que ele fazia e eu disse que não. Deu para notar um sotaque muito forte castelhano. Eu perguntei de onde ele era ele respondeu: Piriapólis, Uruguai. Eu disse que conhecia e ele fez uma cara engraçada de espanto. Eu quis saber se ele não estava com frio e ele respondeu que sim, mas tinha vindo de Florianópolis e não tinha trazido roupa de frio. Na estação Unisinos entrou outro rapaz que ao que tudo indicava era um estudante retornando para casa, e sentou-se próximo a nós.

A mesma pergunta o “uruguaio” fez ao estudante. Não obrigado, eu não uso pulseirinhas. A viagem continuou e o jovem estudante se levantou para preparar o seu desembarque e perguntou ao jovem uruguaio se ele não estava com frio, este respondeu que sim, que estava com “mucho” frio. O rapaz estudante, já em pé, colocou a mochila no chão, tirou a jaqueta e em um gesto que jamais eu tinha visto, retirou o blusão que usava por cima de uma camiseta e deu o blusão ao jovem que ficou sem saber o que fazer, assim como eu. Na estação Niterói o rapaz estudante desceu e eu e o jovem ficamos a nos olhar. Ele vestiu o blusão com cuidado e ficou me olhando, rindo e balançando a cabeça.

Eu não sabia o que dizer. Na minha cabeça só pensamentos malucos como um anjo que estuda na Unisinos e anda de metrô! Que desprendimento aquele jovem tem com coisas materiais! Quem são estas pessoas? O que faz um jovem agir assim com um semelhante, estranho? Não consegui fotografar o momento que ele tira o blusão. Como eu já tinha, sabe lá por que, fotografado o jovem uruguaio de camiseta regata, deixei ele se vestir com o blusão que ganhou e o fotografei. Foi até bom eu não ter tentado fotografar o rapaz que deu o blusão, pois anjos não se fotografam.”
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Eu mesma passei por situação semelhante há muitos anos atrás quando fui fazer um intercâmbio. Sem dinheiro para comprar uma passagem até a Finlândia, fui até Madrid e, de lá, segui de trem até a Suécia, onde cheguei à noite, depois de 2 dias viajando. Lembro bem do rapaz bonito que sentou ao meu lado no trem, que partiu de Hamburgo, na Alemanha. Conversamos um pouco e quase chegando a Estocolmo ele me perguntou onde eu iria ficar. Respondi que não sabia, ia ver algum lugar assim que desembarcasse. Detalhe, naquela época (faz tempo isso!) não tinha internet nem celular… eu sei, difícil de acreditar né?
 
Enfim, descemos na estação e ele me disse para esperar um minuto, que ia me ajudar. Foi até o telefone público e fez duas ligações. Depois pegou uma de minhas malas e disse para ir com ele. Seguimos para o metrô, onde pagou meu ticket. Fomos até o centro histórico da cidade onde havia um albergue que tinha vaga. Fez o meu checkin, pagou uma pequena taxa (eu não tinha coroas suecas, somente dólares) perguntou se eu estava com fome. Eu disse que sim. Esperou eu levar as malas para o quarto e me levou para jantar em um restaurante ali perto. Conversamos animadamente. Depois me levou de volta ao albergue e me entregou um cartão. Se precisar de algo me ligue. Me deu um beijo no rosto virou as costas e foi embora, me deixando ali, entre embasbacada e incrédula.
 
Voltei a Estocolmo uma meia dúzia de vezes durante meu intercâmbio. Em todas elas liguei para o meu anjo, que nunca atendeu. Daí desisti. Lembrei que anjos não tem telefone.
 

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