As Passeadeiras

Minha filha nasceu, e agora, quem sou eu?

minha filha nasceu

Outro dia escrevi para o blog Da fertilidade à maternidade, contando a odisseia que passamos para realizar o sonho de ter um filho. No nosso caso, uma filha. Mas depois que minha filha nasceu, como foi?

Junto com toda a ansiedade e insegurança da primeira gestação, a hora do parto foi, como dizer… um parto! Um simples exame de rotina acabou mostrando que eu estava com pouco líquido amniótico e que a neném podia entrar em sofrimento a qualquer momento. Foi aquela correria e saí da clínica diretamente para o hospital. A odisseia continuava…

Uma hora da tarde e o marido corre para buscar a bolsa da maternidade, minha mãe e minha sogra. Eu fico no hospital monitorando a neném. Celular não funciona, minha tia querida aparece pra ficar comigo enquanto o marido não chega. Três da tarde eu entro na sala de cirurgia. Faríamos uma cesárea. Marido chega a tempo e o procedimento corre normalmente.

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Leia outros artigos sobre comportamento aqui.

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Manoela nasce saudável, mas muito pequenina. Com 2 kg somente, precisa ficar na CTI neonatal para ganhar peso. Ainda perde 180 gramas após o nascimento… não tem forças para mamar, meu leite não desce e ela precisa de alimentação suplementar. Três dias depois eu tenho alta e saio do hospital sem ela nos meus braços. Uma sensação de vazio toma conta e o coração apertado só acalma quando retorno ao hospital, no outro dia de manhã cedo. 

Manô na incubadora

Durante dez dias essa foi minha rotina. Ficava o tempo todo lá com ela. Acompanhava a luta da minha pequena, para ganhar peso. Acompanhava também os outros bebês em uma realidade que eu nunca havia imaginado. Passei a ter um enorme respeito e admiração pelos enfermeiros e enfermeiras que atendem ali. Vi o carinho e o cuidado com que tratam os bebês e ajudam as mães. Foi minha melhor escola. Ali aprendi a dar banho, a trocar fralda, a amamentar. Tudo explicado com tanto amor por gente que sabe o que estamos passando e tem solidariedade no coração.  

Aprendendo a trocar fraldas

Tomando leite materno no copinho

Quando Manoela teve alta, ainda muito pequeninha, fomos para casa e eu tive momentos de insegurança. Até ali estava com todo o aparato, toda ajuda possível. Mas e agora? Seríamos nós 3 somente. O papai tirou férias de um mês e estava sempre conosco e, dizer que isso foi fundamental é pouco.

Alexandre tomou conta da casa, cuidou de tudo. Buscava almoço, arrumava a cozinha, fazia supermercado. Até hoje fica brabo se eu digo que ele ajudou. Não é ajuda, ele diz. É parceria. É responsabilidade compartilhada. É amor. É assim até hoje e tenho muito orgulho do marido e do pai que ele é. Mas isso é assunto pra outro artigo.

Meu bebezinho em casa

Parece que tudo estava bem, não parece? Eu tinha uma filha saudável, um marido maravilhoso, tudo estava em seu lugar. Mas algo não ia bem dentro de mim. Quando o marido voltou a trabalhar Manoela já estava mais gordinha. A fase da amamentação foi bem complicada, mas um mês depois as coisas estavam mais normalizadas. Ainda assim, precisava de cuidados. A prematuridade fazia com que ela vomitasse frequentemente e eu precisava ficar com ela na posição vertical o tempo todo, para ela fazer uma boa digestão. Usei o canguru e o sling e aprendi a fazer tudo com uma só mão. 

Papai e Manô

Eu adorava ficar com ela no colo o tempo todo, mas ainda assim, algo não estava bem. Uma tarde minha mãe veio nos visitar e depois que amamentei eu desatei a chorar, sem saber explicar porque. Ela me olhou e disse pra eu dar uma volta, ir ao salão arrumar as unhas e o cabelo, tomar um café… Eu fui, mas não sem sentir uma certa culpa por sair de casa sem minha bebê.

Daí a ficha caiu. Quando entrei no carro e dirigi, senti uma sensação de liberdade, respirei aliviada pela primeira vez em mais de um mês. Dei algumas voltas na quadra antes de entrar no salão, prolongando a sensação de solidão que eu tanto senti falta, sem me dar conta disso.

Enquanto arrumava o cabelo e escutava as conversas típicas de salão, pensava mas o que está errado comigo? Como pode eu não estar feliz e radiante depois de tudo o que eu passei para engravidar e ter meu neném? Porque não estou pulando de alegria?

Voltei pra casa mais leve, mas as questões ainda estavam lá… porque? Porque? Porque?

O tempo passou e eu demorei a entender. Na verdade eu só entendi depois que a Juliana nasceu, minha segunda filha, 4 anos depois. Precisei da segunda experiência para compreender, de fato, o que se passou comigo, durante a primeira. 

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Veja um exemplo aqui

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Quando Manoela nasceu, eu também nasci como mãe. Quando isso aconteceu, parte de mim morreu e a parte que nasceu, a mãe, precisou aprender  a se conhecer. Precisou entender a mudança, na pele, no corpo, na vida. Eu precisei aprender que aquela Cláudia de antes, deixou de existir e outra agora surgiu. Eu passei a ser a Mãe da Manoela. Ela vinha antes de qualquer outra necessidade minha. A Cláudia que saía de casa e voltava tarde, a Cláudia que comia o que queria, a Cláudia que curtia tomar um vinho com o marido ficou em outra vida.

Acontece que parece óbvio, mas não é. A gente lê, as pessoas falam, você vê em filme, mas quando vive na pele, no dia-a-dia, é diferente. É como saber que o fogo queima, mas a dor da queimadura, só se queimando pra saber. Não tem como ser de outro jeito. É preciso a vivência.

Aprender a ser mãe não é só aprender a ter cuidados com o bebê. É entender que um bebê chega e sua vida inteira muda, literalmente, do dia para a noite. Nada do que você fazia antes vai ser igual agora. Você não é mais só você.

Manô e a Juju na barriga

E porque no segundo filho é diferente?

Porque você não era mais aquela você de antes… você já havia mudado… você já era mãe. Você não perde nada, não deixa de ser nada. Simplesmente continua o processo, agora com um filho a mais. É mais tranquilo, mais fácil, mais feliz. 

Eu sou primeira filha e tenho muita simpatia e respeito por quem é também. Os primeiros filhos são desbravadores e levam consigo o peso das mudanças. Felizes das mães que se dão conta disso e entendem que aquela criança não pode fazer nada, não tem culpa de nada. Só a gente mesmo pode trilhar o caminho e aprender.  Aprender a se perdoar, aprender a se conhecer, a dar espaço para as mudanças, aceitando com o coração aberto a bênção indescritível, o prazer e o privilégio de ser mãe.  

Como foi com você? Como imagina que será? Seja como for, temos a incrível capacidade de aprender, de mudar. Só precisamos de serenidade, sem cobranças internas, sem querermos ser super-heroínas. Basta que sejamos mães.

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