Juju tem uma crise de choro. Um Piti daqueles. Chora compulsivamente, bate a porta do quarto, em uma atitude de revolta e tristeza extrema. Sem saber o motivo e preocupada com minha filha, vou atrás. Abro a porta e vejo ela deitada em sua cama, enrolada em seu cobertor.
– Filha, o que aconteceu?
“Sai daqui, não quero te ver” , diz bem braba.
Meio em choque, diante da resposta agressiva e inesperada, viro as costas e saio devagar. Mas não chego a sair. Dou meia volta e caminho até a cama. Juju continua a chorar copiosamente.
Sento longe dela, respiro fundo e digo:
– Filha, eu sei que tu não quer que eu fique aqui. Eu ouvi e respeito. Mas sei também que tu não estás bem. E como tua mãe, que te ama mais que tudo, não posso sair e te deixar assim. Eu vou ficar aqui, quietinha, perto de ti. Até tu te sentires melhor. Não vou te deixar sozinha quando tu mais precisa de mim.
E ali eu fiquei. Quieta. Enquanto Juju chorava sua dor.
Aos poucos sua respiração abrandou. Seu choro acalmou, devagar, até cessar.
Quando parou de vez, ela ergueu a mãozinha e tocou na minha. Eu retribui o gesto, ainda sem falar nada.
Ela chegou mais perto. E um pouco mais. Até que me abraçou e disse:
– Tu ficou comigo, mãe. Não me deixou sozinha.
Eu abracei e beijei muito, retribuindo o carinho. Olhei nos olhos dela e disse:
Eu sou tua mãe e te amo muito. Nunca vou te deixar quando tu mais precisa de mim. Mesmo que tu não queiras ou não saibas que precisas. Eu vou ficar do teu lado.
Isso aconteceu há quase 3 anos atrás. Juju tinha 4 anos. Ontem a noite, quando fui colocá -la para dormir, dei um beijo e abracei como faço sempre. Como sempre, falamos sobre nosso dia e sobre os próximos dias. Juju me disse, então:
– Mãe, essa semana começam as aulas e eu tenho um pouquinho de medo. Mas é só um pouquinho. Eu sei que tu vais estar do meu lado. Como aquela vez que eu estava muito triste e tu ficou comigo. Mesmo eu não querendo, mesmo te mandando embora. Tu ficou do meu lado. Eu não esqueci.
“As pessoas esquecerão o que você disse,
as pessoas esquecerão o que você fez.
Mas elas nunca esquecerão como você as fez sentir.”
Carl W. Buehner
______________________________________
Leia outras crônicas sobre maternidade e filhos aqui:
Liderança feminina e a síndrome de Rapunzel
[…] Sai daqui que eu não quero te ver […]
[…] Sai daqui que eu não quero te ver […]