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Equivalência do diploma médico e mestrado integrado

Equivalência do diploma médico e mestrado integrado

Fernanda é médica e mora aqui em Portugal. Ela passou por todo o processo de equivalência do diploma médico e mestrado integrado para poder exercer sua profissão, recentemente. Deu tudo certo e ela já está trabalhando no Hospital de Cascais. Hoje trazemos o testemunho de Fernanda, que aceitou contar aqui no blog como foi todo o processo.

Obrigada Fernanda, de coração! Tenho certeza que seu depoimento vai ajudar muita gente e As Passeadeiras está de braços abertos, sempre que quiser voltar e contar algo novo para nós!

 

Equivalência do diploma médico e mestrado integrado

Por Fernanda Costa Ferreira

 

Vou contar como foi a minha saga da equivalência do diploma médico e mestrado integrado. 
Todos os diplomas após o Tratado de Bolonha (2006) já têm o mestrado integrado ao curso de medicina (emitidos na Comunidade Europeia). Mas aqueles antes de 2006 e/ou não emitidos na Comunidade Europeia –  e eu me encaixava nas duas situações, precisam fazer a equivalência do diploma e o mestrado integrado. Isso não ocorre para todas as profissões, mas no caso da medicina é fundamental.
 
Desde novembro de 2016, quando decidimos mudar para Portugal, começamos a enviar emails para TODAS  as universidades portuguesas solicitando informações quanto a equivalência do diploma. Algumas já nos informaram de cara que não faziam este processo, como a Universidade de Coimbra. Outras diziam que possivelmente os editais sairiam em 2017.
 
O primeiro edital foi o da Univ. Nova de Lisboa, que saiu em março de 2017. Com a lista de documentos (alguns eu já imaginava que seriam necessários então já fui adiantando), comecei a correr atras do que faltava. Todos eles devem ter a firma reconhecida e o selo de Haia emitidos no Brasil. 
 
Conheci uma advogada através de uma conhecida, que morava em Portugal e a elegi minha procuradora. Não conseguiria vir a Portugal em todas as etapas do processo. 
 
Após o envio dos documentos, a universidade te informa se o curso da sua universidade é compativel com o das universidades portuguesas e você é autorizado a fazer a prova escrita. Somos dispensados da prova de português, pois falamos a mesma língua. Mas para países que não falam português, existe uma necessidade de realizar a prova de português.
 
Minha prova foi marcada para 7/6/17 – mas só tive acesso a esta informação em maio. Comecei a estudar que nem uma louca – trabalhava muito, todos os dias, o dia inteiro, inclusive alguns finais de semana. Usava as madrugadas para colocar a matéria em dia, após colocar meus filhos para dormir. Não foi nada fácil. Tive que rever conteúdos que não via há muito tempo. Mas estava determinada, então fazia de bom grado.
 
Em junho, vim para a prova escrita. O edital informava que a prova oral seria 5 dias úteis após a divulgação da prova escrita, que por sua vez, seria divulgado após 48 h da realização da prova. Fiz uma contas rápidas e imaginei que minha prova oral seria dia 19/07 – Batata ! Fiz a prova oral e prática nos dias 19 e 20/6 – tirei férias em todos os meus empregos para conseguir ficar direto para as duas provas.
 
A prova escrita consistia em 120 questões múltipla-escolha, englobando os grandes blocos das matérias de medicina: clínica médica, pediatria, cirurgia, saúde mental, saúde da família, med preventiva e ginecologia/obstetrícia.
Passei ! 
 
Agora era me preparar para a prova prática e oral. Instintivamente (pois não estava descrito no edital), imaginei-me no 3º ano da faculdade, quando comecei a aprender semiologia. Comecei a estudar a fundo semiologia e para cada grande síndrome clínica, estabelecia hipóteses diagnósticas. 
 
Era junho de 2017 e havíamos alugado um Airbnb no Parque das Nações que, como a grande maioria dos apartamentos de Portugal, não tinha ar condicionado. O sol fritava o asfalto do lado de fora, e o calor me cozinhava do lado de dentro do apartamento! Quando ligava o ventilador me sentia em um microondas ! 
 

Faculdade de Medicina da Univ. de Lisboa – Foto: cienciavivia.pt

 
 
Como as coisas já estavam determinadas (não por mim!) a dar certo, a prova foi exatamente como pensei ! E ainda dei sorte de ter um paciente que tinha justamente uma morbidade cardiovascular (sou cardiologista!). Conclusão: tirei uma nota excelente nesta fase! Voltei para o Brasil para aguardar a última fase.
 
Nesta parte do processo, eu poderia escolher apresentar uma dissertação de mestrado, ou uma tese de doutorado, uma monografia ou ainda um relatório curricular. Mesmo sem ter ideia do que seria um relatório curricular, optei por esta modalidade de avaliação simplesmente por não ter quaisquer das outras opções. Cheguei a começar a escrever uma monografia na minha área mas o tema era demasiado específico e isso poderia representar alguma dificuldade em organizar uma banca avaliadora. Enfim, após extensa pesquisa, concluí que um relatório curricular nada mais seria do que a história da minha vida profissional. Deveria ser  cronologicamente organizado e minuciosamente descrito. Assim foi. E até recebi elogios da banca quanto a organização do relatório. Nada de firulas. Fui objetiva porém descritiva, sem enfeites ou figurinhas. Letra Arial, tamanho 12, margens de 2,5 cm… como os trabalhos que eu enviava para os congressos. Fui aprovada em mais esta fase. Yupi! Agora sim, minha saga estava chegando ao fim !!!!
 
A Universidade foi nota 10 (ou 5 estrelas como dizem por aqui!) e emitiu o meu certificado dois dias após. Fui com ele a Ordem dos Médicos e efetuei a minha inscrição. Aqui vale uma ressalva: dei entrada na OM de Lisboa (OM SUL). Neste caso, eles emitem o seu registro e depois você da entrada na autonomia para trabalhar. No caso da OM Norte, você da entrada nos processos de forma simultânea.  
 
A autonomia é concedida se você trabalhou durante 3 anos nos últimos 5 anos. Portanto, recém formados não podem tê-la. Neste caso, precisam seguir outro caminho, diferente do meu, que já era formada há 16 anos. 
 
A minha autonomia saiu em MAIO/18. Marcamos a nossa mudança para julho de 2108.
 
Conseguir um emprego não é dificil depois que você ja tem uma autonomia para trabalhar. Há diversas empresas de recrutadores que conseguem trabalhos em hospitais, centros de saúde e até presídios. Paga-se mal para o não especialista – que é o que somos após este processo. O especialista ganha quase o dobro do não especialista. Mas este processo para equivalência da especialidade é outra saga, que posso contar em outro relato, após obter o resultado da minha! Dei entrada na equivalência da cardiologia no Colegio de cardiologia Da OM em agosto de 2018 e ainda não ha previsão para esta resposta.  
 
Coisas que considero muito importantes durante este processo longo, caro e burocrático: 
 
– Abra a sua mente e aceite deixar de ser especialista, mesmo que por um periodo de tempo; 
 
– Acostume-se a ganhar pouco ! – aqui os salarios não se comparam aqueles do Brasil. Mas a sensação, é que o dinheiro aqui “estica” e rende muito mais do que lá.
 
– Considere trabalhar em lugares onde vc nunca imaginou, como por exemplo, consegui uma vaga para trabalhar como clínica em uma clínica de medicina do trabalho !
 
– O interior do país pode ter algumas vantagens financeiras em relação às grandes cidades, considerando a carência de médicos e o custo de vida mais barato;
 
Bom, este é o meu relato ! Espero poder contribuir para ajudar medicos brasileiros a migrarem para PT.
 
Um grande beijo,
Fernanda Costa Ferreira
 
O marido de Fernanda é advogado, e presta assessoria para revalidação de diplomas e reconhecimento de licenciaturas, alem de processos de nacionalidade e registro  civil. Para saber mais, pode acessar os 2 sites abaixo:
 
 
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Alguns links úteis:
 
Ordem dos Médicos de Portugal
 
DGES – Direção-Geral do Ensino Superior
 
Apostila de Haia
 
Saiba a diferença entre validar o diploma, pedir equivalência ou registrar o diploma, aqui.
 

Universidades onde pode solicitar a equivalência de medicina:

A maioria das Universidades portuguesas que ministram o curso de Medicina também fazem o processo de equivalência: 

 

Fiz uma pesquisa rápida nos sites das universidades e, no geral, os documentos solicitados (que devem ser apostilados) são:

– Documento de Identificação (passaporte);
– Diploma;
– Histórico Escolar completo;
– Ementa de todas as disciplinas cursadas;
– Conversão da escala numérica das notas;
– Dissertação, Monografia, Trabalho de Investigação, Relatório de Estágio ou Curricular. (no relato acima a Fernanda explica melhor); 
– Documento de reciprocidade entre países;
– CV

Mas você deve verificar junto à Universidade em questão se há alguma outra solicitação específica.  A lista acima é meramente informativa.

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