Dois anos em Portugal – uma reflexão sobre a mudança

Claudia Bins

6 anos atrás

Olho o calendário e parece que os olhos não conseguem acompanhar a rapidez do tempo. Tic Tac Tic Tac é o que escuto. Mas se prestar bem atenção, talvez seja o tum-tum tum-tum do coração que bate acelerado. Um misto de emoção e ansiedade que insiste em viver neste peito desde que me entendo por gente…

Dois anos e tudo vai bem.

Sobrevivemos à mudança, nos adaptamos à língua, ao clima, aprendemos sobre a burocracia, engordamos com o pão e os pastéis de nata. Mas tudo vai bem.

Honestamente, não é surpresa. Surpresa seria se não tivéssemos nos adaptado, se houvesse sofrimento ou qualquer motivo impensável que nos fizesse querer voltar correndo aos braços da pátria mãe.

Ahhh pátria mãe, Brasil. Você também facilita nossa vida… é cada notícia que a gente ouve. É cada discurso, manchete, estatística que só dá pra pensar que fizemos a coisa certa.

Desde que mudamos, há quase dois anos, não houve um só dia de arrependimento. Ainda que haja muitos dias de saudades.

De saudades eu entendo bem. Já senti muitas vezes na vida. Saudades de casa, do calor dos abraços, de sentir o cheiro que só pai e mãe tem. Saudade dos irmãos, sobrinhas e de um sobrinho que eu mal conheço mas que amo com todo meu coração… A saudade dói fundo no coração, sim, mas não impede de seguir o caminho. E eu sempre fui assim.

Entendo e aceito que uma escolha exige também uma renúncia, que não dá para ter tudo na vida, ao menos não ao mesmo tempo. Que tudo tem um motivo e um momento e que, antes de qualquer coisa, a vida é uma só. E é curta.

Motivos. É preciso coragem para reconhecer e aceitar os próprios motivos. É preciso grandeza e generosidade para aceitar quando os motivos não são somente seus, mas você está disposto a encará-los ainda assim. É preciso força e paciência para permanecer no caminho, ainda que hajam pedras e abismos a serem atravessados. É preciso muita determinação e fé em si mesmo para lidar com as frustrações que a sua decisão trouxe às pessoas que você mais ama e preza nessa vida.

Sem entender os motivos que te fizeram cruzar o oceano, dificilmente você vai conseguir lidar com os momentos de frustração. Mas se você, por outro lado, comprou de verdade a idéia, vai usar toda sua inteligência e sabedoria para ajustar as velas quando necessário, mas ainda assim seguir em frente.

As tempestades vão acontecer, isso é certo. O barco vai desviar da rota, vai se perder no oceano de novidades desconhecidas que vão cruzar seu caminho. As costas vão doer e a consciência também, assim como aquela maldita sensação de que tudo está errado, de que você não sabe o que está fazendo.

Deixa eu te dizer uma coisa. Nessa hora, quando a sua cabeça parecer explodir de dúvidas e questionamentos, pare. Pare tudo. Respire fundo, várias vezes. Acalme sua mente e lembre do que te fez iniciar o caminho. Lembre dos seus motivos.

Lembre também que tudo precisa de um tempo, ninguém ou nada que existe no mundo já nasce pronto. Coloque sua ansiedade de lado e ponha toda a sua racionalidade a seu favor. Essa é a maior dica. Use a razão. Ela, assim como a emoção e o impulso que te fez ter forças para mudar e chegar aqté aqui, precisam andar lado a lado, para que, juntas, te levem a um lugar melhor, mais tranquilo.

Siga seu coração, mas leve seu cérebro junto. Não esqueça disso. “Mas se eu não gostar?” Você vai perguntar… eu te digo: “quantas vezes você não gostou de algi na vida?” E o que você fez? Você decidiu mudar uma vez, pois mude de novo! Mude seu jeito, suas expectativas, adapte-se a nova realidade. Mude seu discurso, seu modo de vida. Mas tente! Tente, antes de concluir que não deu certo. Tente de verdade, com toda a sua energia, toda a sua verdade, foco e dedicação.

Tente por você e tente por sua família. Tente nem que seja para mostrar a você mesmo que você tentou. E se for o caso de voltar ou de partir para outro lugar, seu coração vai estar em paz, porque esgotou todas as tentativas.

De definitivo, só a morte. É o que sempre digo aqui em casa.

Aprenda a diferenciar problemas de inconveniências. Amadureça para enxergar as coisas como elas são e não como você quer que elas sejam. Tenha coragem para ver e viver a realidade, não uma fantasia. Tenha orgulho em ser um adulto humano e assuma seus atos e escolhas e não uma criancinha mimada que precisa de aprovação constante para cada passo que dá.

Tente por você, pelos seus filhos. Mas se não der mesmo, dê meia volta e vá em paz. Comece tudo de novo, tentando outra vez.

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Adaptação da mãe depois da mudança

Adaptação da Família depoisa da mudança

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